HELENA KOLODY

“DE PROFUNDIS”

© DE Helena Kolody

 

Helena Kolody (Cruz Machado, 12 de outubro de 1912 — Curitiba, 15 de fevereiro de 2004) foi uma poetisa brasileira.

Helena Kolody (Cruz Machado, 12 de outubro de 1912 — Curitiba, 15 de fevereiro de 2004) foi uma poetisa brasileira.

Monstros de pesadelo

Macularam o puro olhar das feras

Com o espetáculo vil de suas ações.

 

Seres moribundos,

De entranhas ansiosas de fome,

Rastejam na sombra.

 

Chacais implacáveis

Devoram o rebanho.

 

Um denso mar de elegias

Cresce por sobre as fronteiras

No fundo choro das mães.

 

Áspero vento de miséria

Fustiga os homens:

Secou-lhes a medula nos ossos

E a língua nas fauces.

 

Nuvem de fogo do Monte Senai:

Consome a terra até os fundamentos

E renova, no Amor, a face do mundo.

 

[in Correnteza, 1977, pp. 120-121. Ed. Lítero-Técnica, Curitiba – Paraná]

 

* * * * * * * * * *

ABISMAL

© DE Helena Kolody

Meus olhos estão olhando

De muito longe, de muito longe,

Das infinitas distâncias

Dos abismos interiores.

Meus olhos estão a olhar do extremo longínquo

Para você que está diante de mim.

Mas os cinco dedos pendem como um lírio murcho

Ao longo do vestido.

 

Aqui tudo é leve, silencioso, indefinido,

Imóvel.

Não tenho mais limites.

Tornei-me fluida como o ar.

Seus olhos têm apelos magnéticos,

Mas estou abismada

Em profundezas infinitas.

 

[in Correnteza, 1977, p. 42. Ed. Lítero-Técnica, Curitiba – Paraná]

 

* * * * * * * * * *

Inquietação

© DE Helena Kolody

O ritmo febril de um sangue moço

Lateja em minhas fontes.

As tendências recalcadas

Rumorejam surdamente,

Como lavas represadas,

Eu não sei que perdidas regiões do inconsciente.

Não possuo mais a antiga serenidade

De alta montanha nevada.

 

O amor quis envolver-me

E eu me esquivei.

Essa tristeza que me oprime

Tornou-se mais espessa

E pesou mais o meu destino de ser só.

 

O esforço gasto em árdua luta

Partiu não sei que amarras

Que me prendiam à vida.

Meu espírito, desarvorado,

Deixa-se vagar ao sabor da corrente.

Não quer aportar.

[in Correnteza, 1977, p. 43. Ed. Lítero-Técnica, Curitiba – Paraná]

Comente

Required fields are marked *
*
*